Quando todas as portas parecem se fechar, a da educação permanece sempre aberta. Na AIESEC, testemunhamos diariamente como o acesso ao conhecimento transforma realidades, mesmo nas situações mais desafiadoras.
Hoje, compartilhamos uma dessas histórias de transformação. Uma prova de que o direito à dignidade humana não pode ser aprisionado, e que as palavras podem se tornar a voz que reconstrói vidas por trás das grades.
A Educação Como Ponte para a Liberdade
A educação no sistema prisional é muito mais do que apenas uma forma de passar o tempo. Os livros são ferramentas de mudança e pontes que conectam o que as pessoas foram com o que podem ser. Através da leitura, os detentos revisitam suas histórias, entendem seus erros e se preparam para escrever um novo capítulo.
A escrita, por sua vez, oferece um espaço seguro para expressar arrependimentos, esperanças e sonhos. Para muitos, ela é um meio de sobrevivência mental, uma forma de colocar para fora mágoas e frustrações acumuladas.

Fonte: ms.gov.br
Conexão com os Direitos Humanos e Compromissos Globais
A defesa dos direitos humanos é um pilar fundamental para uma sociedade justa. Ela nasce do entendimento de que toda pessoa, sem exceção, possui uma dignidade inerente que deve ser respeitada. No contexto prisional, isso significa reconhecer que mesmo quem vacilou mantém seu direito fundamental à educação e de se reintegrar à sociedade.
Essas iniciativas estão alinhadas ao ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes, demonstrando que é possível construir sistemas de justiça que não apenas punem, mas que curam; que não isolam, mas preparam para o retorno.
Ao mesmo tempo, conectam-se ao ODS 4 – Educação de Qualidade, pois a educação é a ferramenta mais poderosa para garantir que ninguém seja deixado para trás. Mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, como o sistema prisional, ela oferece caminhos para desenvolver habilidades, resgatar a autoestima e abrir portas para um novo começo.

Na Prática
No sistema prisional brasileiro, a ressocialização é uma realidade impulsionada pelo Estado. Em diversas regiões do Brasil, agências estaduais, como a Agepen de Mato Grosso do Sul, utilizam o estudo formal e os cursos profissionalizantes como ferramentas-chave para a transformação. Essa estratégia é a prova do engajamento direto do poder público com a reintegração social.

Fonte: Keila Oliveira
Clubes de Leitura
Em Minas Gerais, detentos participam ativamente de clubes de leitura, como o que ocorre na Penitenciária José Maria Alkimin. Eles leem um livro por mês e participam de debates mediados por voluntários universitários. A metodologia de reflexão sobre obras como “Vidas Secas” permite que os detentos revisitem seu próprio contexto de exclusão social.
Esses espaços são fundamentais para a inclusão: para aqueles que ainda não dominam a escrita, a avaliação pode ser feita através de debates orais, garantindo que o direito à remição de pena alcance até quem está dando os primeiros passos na alfabetização.
Círculos de Escrita
Pioneiro e referência nacional para o modelo de Remição pela Leitura, no Paraná, os participantes não apenas leem, mas produzem através do Projeto “Releitura”. Eles escrevem resenhas críticas que, se aprovadas por uma banca de professores, reduzem a pena em 4 dias, conforme a Lei de Execução Penal. Esse incentivo gerou mais de 5.000 obras — incluindo cartas para familiares que não conseguem visitá-los.
Bibliotecas Prisionais
Na Penitenciária de Porto Alegre, a biblioteca é mais que estantes — é uma sala de aula permanente. Lá, os presos preparam-se para o ENEM PPL, buscam cursos técnicos através de livros profissionalizantes e encontram refúgio mental. A biblioteca funciona com um sistema de empréstimos organizado, catálogo atualizado e horários fixos. Muitos chegam analfabetos funcionais e saem com ensino médio completo, um feito que transforma suas autoestimas e perspectivas de emprego após a liberdade.
A Lei, a Vida e a Segurança
A Lei de Execução Penal (Art. 17) não é uma concessão, é a materialização de um direito humano fundamental. Garantir a educação no sistema prisional é um dever do Estado e um compromisso com a Dignidade da Pessoa Humana, princípio máximo da Constituição.
No entanto, o abismo entre a lei e a realidade é onde os direitos humanos são mais violados. A falta crônica de professores e a superlotação não são apenas falhas administrativas — são negações sistemáticas do direito à ressocialização. Lutar por essa educação é fazer valer os Direitos Humanos onde eles são mais desafiados.
Lutar por essa educação também é uma estratégia inteligente de segurança pública. Um ex-detento que sai com uma nova perspectiva deixa de reincidir. A ressocialização eficaz interrompe o ciclo da violência, tornando a convivência em sociedade mais segura.

Fonte: Divulgação/SEAP
Virando a Página: Exemplos Reais
A leitura se traduz em impacto real. Conhecemos histórias de pessoas que, através da literatura, descobriram um novo propósito de vida e atualmente inspiram outros em situação similar. Para além de uma forma de resgate pessoal, a leitura se torna uma ferramenta de cidadania, ajudando a compreender conceitos sociais e políticos que antes pareciam inacessíveis.
Para ilustrar isso não precisamos de hipóteses, temos história. Luiz Alberto Mendes não era um caso simples: condenado a uma pena cumulativa de mais de 100 anos por crimes graves, incluindo latrocínio e homicídio, ele era considerado “irrecuperável”. Entrou no cárcere analfabeto funcional, mas nas brechas de uma cela superlotada, encontrou a literatura.
Mais do que ler para si, ele usou a escrita para servir: tornou-se o escriba da galeria, redigindo cartas para que outros presos analfabetos mantivessem contato com suas famílias. Luiz cumpriu 31 anos, saiu como autor best-seller e provou que a educação resgata a humanidade onde a sociedade já perdeu a esperança.
Eficácia que se Mede
A história de Luiz não é um ponto fora da curva, mas um reflexo de um impacto coletivo e comprovado. Estudos no sistema prisional brasileiro revelam o poder da educação. Ela reduz em 30% as chances de uma pessoa voltar ao crime e permite que 45% dos participantes obtenham uma certificação profissional. O impacto mais significativo ocorre após a liberdade, onde a chance de conseguir um emprego formal é 68% maior para quem teve acesso à educação na prisão.
Estes dados não são apenas estatísticas — são vidas sendo reconstruídas, famílias sendo reescritas e comunidades sendo fortalecidas. Suas jornadas provam que a educação é o mais poderoso agente de mudança social.

Fonte: rs.gov.br
Derrubando Estigmas
Essa transformação pessoal também é uma poderosa ferramenta para desafiar preconceitos. É aqui que vozes contemporâneas, como a do ativista Thiago Torres (o Chavoso da USP), tornam-se essenciais. Sua atuação vai além do discurso: ele relata que decidiu tatuar o próprio rosto justamente após palestrar para jovens na Fundação CASA. Ao perceber que muitos meninos desistiam de estudar por acharem que suas marcas faciais fechariam todas as portas, Thiago usou a própria pele para mandar um recado.
Hoje, ele é a prova viva para esses jovens de que é possível ocupar a universidade e ser um intelectual respeitado, independentemente da aparência. Sua existência reforça que a origem ou o passado não definem a capacidade — uma mensagem vital para quem busca reconstruir a vida.
Seja a Mudança
E o que isso tem a ver com a gente? Tudo! Na AIESEC, acreditamos que liderar é influenciar a mudança. É enxergar potencial onde outros veem limites e apostar na educação como catalisadora de transformação social.
Como jovens líderes, podemos ser agentes dessa mudança. Apoiando projetos de educação em presídios, doando livros ou simplesmente espalhando essa mensagem de esperança. Porque acreditamos que toda pessoa merece uma segunda chance.
Nós acreditamos no poder transformador da educação. E você? Venha fazer parte dessa transformação.




