Professor Lisita e o mercado de trabalho na educação

Em plena semana dos professores, em um cenário pandêmico, entramos em contato com um professor universitário, mais conhecido como Rafael Lisita, para compreendermos um pouco mais sobre qual a situação do mercado da educação e quais as assimilações são feitas por um profissional da área, à respeito de um dos nossos programas, o Professor Global.

Professor Rafael Lisita
Rafael Lisita

Me chamo Rafael Mendonça Lisita Pinto, tenho 32 anos, eu sou goiano, natural de Goiânia. Moro em São Paulo há 2 anos e meio, sou professor há 6 anos, professor universitário na área de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e em São Paulo sou professor das disciplinas que envolvem criação, comunicação visual e supervisiono a Agência Experimental da Universidade da qual sou professor. Sempre me mantive nesse caminho da criação, inclusive durante as pesquisas que fiz no meu Mestrado em Arte e Cultura Visual na Universidade Federal de Goiás, minhas experiências em agências de publicidade e dentro da Universidade, a maioria das matérias das quais eu leciono, são voltadas à área de criação.

Como está o mercado de trabalho brasileiro?

Tivemos uma onda de desemprego muito grande, principalmente no início da pandemia. Agora estamos em uma nova onda de empregabilidade, muitos conseguiram retornar, mas o cenário de mercado de trabalho do Brasil como um todo é muito problemático, até porque estamos num país em que a educação básica é muito deficiente, onde a maioria das pessoas não tem um repertório, conhecimento necessário para poder assumir vagas que estão disponíveis. Até falamos que existem oportunidades, mas não existe a mão de obra adequada para ocupar algumas dessas vagas.

E em relação à educação, como está a situação do mercado de trabalho?

No área da educação, eu vejo que existe uma problemática muito grande do professor ser pouco valorizado, dos salários serem baixos, da hora-aula do professor ser um valor muito questionável, na minha opinião, principalmente nas Universidades particulares. Agora não existe mais divisão entre salários ou hora-aula entre professores Mestres e Doutores, ou seja, eu que sou Mestre, posso, à depender da Instituição, receber a mesma quantia que um professor Doutor ou mais, dependendo do meu cargo como professor de tempo integral, por exemplo. Então, estamos num cenário um pouco injusto para os professores no nosso país. 

Ainda acrescenta que…

É muito bom e gratificante ser professor, porém existe uma sobrecarga de trabalho em cima do professor brasileiro e pouco reconhecimento e retorno financeiro, o que acaba o desestimulando a pesquisar mais, se aprofundar e buscar mais inovação em metodologias novas pras salas de aula. Por que recebe tão pouco, que muitos deles são desmotivados e simplesmente cumprem com a carga horária. A profissão do professor é muito maior do que simplesmente dar aula, é motivar o aluno, criar cenários e usar metodologias que façam com que eles queiram crescer naquele mercado que eles escolheram investir. É caro estudar, então não deveria ser barato o professor, né?

O mercado de trabalho valoriza experiência internacional?

Com certeza, a verdade é que eu acho que a maioria dos professores se prepararam ao longo das suas carreiras, fazendo Mestrados, Doutorados, Especializações e Cursos de Extensão, mas a maioria para de investir na carreira e encontra um platô, uma fase de estagnação, justamente por falta de investimento neles próprios, das Universidades não retribuírem financeiramente todo o investimento que eles fizeram ao longo destes anos. Uma oportunidade de ir para o exterior, viajar, e conhecer uma nova cultura, entrar em contato com estudantes e professores de outro país, entender um novo cenário político, econômico, social, consumir novos produtos, comida, música… tudo isso seria repertório novo. Então, com certeza, uma experiência no exterior é muito válida para um professor.

Agregar para o currículo?

Para um currículo, independentemente de ser um currículo lattes – que é o currículo que os professores utilizam – ou um vitae – que é o que usamos para linkedin e outras plataformas de busca de empregos no mercado – trabalhar no exterior conta muito positivamente também. Já vi uma série de vagas que exigem que você tenha experiência com alguma conta internacional, e isso conta muito para o seu currículo e você acaba abrindo mais portas de oportunidades de trabalho, então é muito positivo, fora que é muito rico culturalmente. Para todo mundo seria uma super experiência poder viver esse período fora. Não é a toa que a maioria das pessoas tenta encontrar bolsas no exterior, para estudar, fazer Doutorados e Mestrados, porque a gente acaba ganhando muita cultura. Não é que o nosso país não seja rico em cultura, é que ele não investe muito em educação, e é por isso que não veem uma possibilidade de crescimento aqui.

Já teve alguma experiência de vivência no exterior?

Já fui para estudar fora, passei um tempo em Atlanta, fiquei em host family e estudei inglês lá. Fui quando terminei minha escola de inglês no Brasil, que estudei durante 8 anos. Fiquei 2 meses em Atlanta, estudando inglês. Já faz muito tempo, eu tinha 15 anos de idade, mas foi uma experiência legal. Fora isso, foram experiências de turismo mesmo.

Já teve alguma experiência profissional no exterior?

Profissional, não. Mas quando eu trabalhava em agência, há muitos anos antes de fazer meu Mestrado e ser professor, trabalhando em Goiânia, eu tive um cliente que era em Montreal, no Canadá e como ninguém da agência se comunicava em inglês ou francês e eu tinha o básico do francês e avançado do inglês, quem atendia esse cliente era eu. Sempre nos falávamos por chamada. O cliente era um restaurante de comida venezuelana, no Canadá, um país anglofônico/francofônico e a maioria das pessoas falava francês. Então eu arranhava meu francês e me dava bem com o meu inglês e como o restaurante era venezuelano, apesar das donas serem canadenses, elas também falavam espanhol e eu aproveitava para bater um papo em espanhol, que eu amo. Eu conheço muitas pessoas que trabalham e/ou estudam fora, mas eu nunca tive essa visão, e na verdade nunca soube dessas oportunidades que existiam ou que pudesse ser fácil, acessível e possível enquanto estudante, muito menos como professor. 

E como conheceu a AIESEC?

Tenho dois amigos que tiveram uma experiência pela AIESEC, que foi a maneira pela qual eu conheci a organização. Eles foram trabalhar na Colômbia para o spotify, hoje um deles continua lá, trabalhando em outra empresa, como gerente de Marketing Digital, se não me engano, e ele foi pela AIESEC.

Você tem vontade de trabalhar no exterior?

Sim, com certeza. Tenho muita vontade de trabalhar em empresas de tech, principalmente aquelas que abrem oportunidade para trabalhar com o entretenimento. Por exemplo, seria para mim um sonho, seria incrível, trabalhar no youtube, spotify… Estou fazendo um curso de Planejamentos e Estratégia e eu já sou da área de criação, então eu quero ser um estrategista criativo, trabalhar com empresas como essas, que são empresas globais, e se eu conseguisse uma vaga em empresas deste perfil, eu abandonaria tudo e iria, sem medo de ser feliz! Então, sim sempre tive esse sonho, quando fui aos 15 anos morar em Atlanta, eu só não tive coragem de ficar, porque eu era muito menino e era muito apegado à família, hoje eu já moro longe da minha mãe e temos outras oportunidades de contato com a internet.

Qual a sua visão sobre o nosso programa Professor Global?

Eu acho que essa experiência que vocês tem com o Professor Global é fantástica, eu iria super viver essa experiência de ensinar um novo idioma, ter contato com crianças de outro país e até por que quando você tem contato com crianças, também tem com os pais e outros professores, aprende a nova cultura, tanto lá na base com as crianças como com os professores e a mentalidade deles, o que está sendo ensinado para uma nova geração em outro país e isso pode trazer inclusive insights, para você trazer para o nosso país, voltar para o Brasil e contribuir com a nossa educação, criar um super projeto quando retornar. Acaba sendo muito positivo.

Isso para alguns pode parecer bobagem…

Os filmes de desenho são feitos numa linguagem infantil, e sempre tem uma moral da história, e nós quando somos adultos a gente se aproxima desse universo infantil, e isso significa que metodologias de ensino que funcionam para crianças, também podem funcionar para adultos de uma maneira adaptada, então se engana o professor que acha que ter experiência com criança não vai contribuir na prática de ensino com adultos, até porque você exerce ainda mais a sua paciência e a sua didática, porque a criança tem mais dificuldade às vezes de entender algum assunto que seja mais complexo, como um novo idioma. Então você exerce habilidades, que quando você volta e vai pro cenário de dar aulas para adultos, você terá muito mais facilidade e didática. Tem alunos que precisam que você pegue na mão e ajude a caminhar, tem alunos que têm mais dificuldade. Então funciona muito para adultos também, o programa é muito interessante.

Para finalizarmos, qual a mensagem gostaria de deixar para o público?

Se você tem a chance de fazer um intercâmbio e adquirir algum tipo de experiência, seja ela qual for, vá! Não pense duas vezes. Se essa oportunidade bateu na sua porta e se você vislumbra ser um grande profissional, todas as empresas hoje pedem ou valorizam que você tenha exercido algum tipo de trabalho voluntário. Fale mais de um idioma. Que você tenha metodologias de trabalho que sejam ágeis. Seja uma pessoa que entenda do cenário global, que entenda o que está acontecendo no mundo, porque o mundo está cada vez mais conectado. As oportunidades estão ficando cada vez mais híbridas, então por mais que você precise ser especialista em algum assunto para conseguir uma vaga, quanto maior sua visão global, entendimento do cenário mundial e de diferentes cultura e maior o seu repertório, mais rico isso vai ser para o seu currículo e para sua vida mesmo, viajar por si só já é muito bom.

Entrevistado por: Larissa Fregni

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